VERDADES DIFÍCEIS

Infelizmente, pouco se fala sobre o quão problemático é apresentarmos opções falsas aos nossos filhos por “razões maiores”, como a sugestão de que a verdade é dura, complicada e fora da compreensão das crianças.
É exatamente aqui que acabamos cedendo: primeiro nos convencemos com a propaganda enganosa de que crianças não são capazes de compreender nada e, então, também enganamos, oferecendo a mentira. Assim ninguém precisa lidar com verdades difíceis.
O problema disso é que, de forma ética, mentir é uma decisão errada e corrupta. Como cristã, também acredito que mentir é pecado, fruto de uma decisão corrompida!

Isso começa já na fase do desmame, do desfralde, os primeiros ensinos e princípios.
Mentiras como “o mamá está dodói”, “o mamá está sujo”, “o leite acabou”, “agora a fralda não serve mais”, “o doce é ruim” enfim… Frases que se tornaram comuns e que todas nós, em algum momento, já ouvimos ou falamos. Mas s
e mentir é contra um princípio no qual acreditamos e contra os nossos valores — e creio que todas nós não queremos criar filhos mentirosos —, então, como é que deixamos a mentira se tornar algo comum em nosso meio, de forma tão escancarada e prática, sem nos darmos conta de que, antes que os nossos filhos tenham idade para quebrar esse princípio tão valoroso que é falar a verdade, nós já o estamos quebrando?

Em todas as fases das minhas filhas até aqui, vejo que elas têm em comum um fato: as crianças são muito mais adaptáveis do que eu! Em algumas vezes, confesso que estou ali sofrendo e quando olho para elas, já nem lembram mais da questão… 

As crianças realmente não têm a compreensão de tudo, claro, ainda mais quando temos de lidar com assuntos difíceis como por exemplo, doença, morte, separação dos pais, etc. Mas existe sempre uma forma correta de abordar qualquer tema, para qualquer que seja a idade dos nossos filhos.
Me lembro de quando tinha por volta dos 8/9 anos e minha mãe contou que tinha se separado do meu pai de forma crua e verdadeira, sem enfeite e sem detalhes. É claro que não foi uma verdade fácil e eu precisei lidar com isso por algum tempo! Mas ter tido a oportunidade de lidar com essa verdade difícil, foi muito mais honrável e muito menos doloroso do que para além de tudo, ser enganada e vir a descobrir tudo na vida adulta…

Mentir não é apenas um pecado contra Deus (o que deveria ser suficiente para não cairmos nessa armadilha), mas é um pecado contra os nossos filhos! Decidir enganar uma criança afeta diretamente a identidade que está sendo formada e no nível de confiança que ela construirá nos relacionamentos a seguir. 

Falar a verdade protege os nossos valores, protege os nossos filhos e protege os nossos relacionamentos de danos como insegurança, falsidade, acontecimentos encobertos e feridas mal curadas. Mentir para os nossos filhos é amortecer a nossa própria dificuldade em aceitar verdades difíceis e facilitar a nossa responsabilidade como guardiãs desse valor.

Não permita ser enganada pela sujeira da mentira a ponto de considerar normal mentir para os seus filhos e lembre-se: não existe mentira no diminutivo!
Que sejamos verdadeiras guardiãs da verdade, criando filhos capazes de lidar com ela e dignos de relacionamentos saudáveis, não enganadores e nem enganados. Curados e prontos para também acolherem quando necessário. Nunca subestime a capacidade de uma criança entender a verdade de uma forma que ela consiga suportá-la e construir com aquilo bases sólidas para crescer de forma saudável e admirável!

Esse é um tema tão delicado, de algo tão impregnado por tantos anos que, com certeza, vale uma boa reflexão…

Um beijo daqui. 

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